domingo, 21 de dezembro de 2008

A MULHER E A CAPOEIRA




Desde a Antigüidade, na Grécia, eram poupadas as mulheres qualquer ligação com áreas relacionadas ao conhecimento e pensamento, já que os papéis materno e caseiro lhe eram designados. Analisando o contexto histórico da capoeira, é possível apontar a importância do sexo feminino no conteúdo cultural e na estruturação da capoeiragem. A partir daí a participação das mulheres foi tornando-se mais evidente e intensa, porém acoplada a um sentido estereotipado de masculinidade diante da marginalização daqueles que praticavam a capoeira. A marginalização seria uma das razões pela qual as mulheres continuam sendo alvo de atitudes preconceituosas e que questionam seu potencial e suas capacidades físicas.


Nestor Capoeira (1999) interpreta depoimentos de mulheres capoeiristas do Grupo Senzala em reunião. As mulheres capoeiristas presentes nesta reunião levantaram o problema da falta de documentação sobre a história da mulher na capoeira, a qual, certamente, contribuiria com pesquisas e estudo a respeito. Porém sabe-se que durante a época do Brasil Colonial, consta em sua história, mesmo que de forma pouco precisa, alguns registros de mulheres jogando capoeira. A República do Quilombo dos Palmares contava com mulheres guerreiras para sua resistência, e, a repercussão dessas mulheres se nivelou a dos homens escravos.



"(...) mulheres tão marginalizadas quanto os homens capoeiristas, assim como toda a cultura e o povo negro daquela época".(CAPOEIRA, 1999, p. 182).
Há fatores que implicam, desde o início, na participação de mulheres na capoeira. A desunião e competitividade entre mulheres são mais acentuadas, pois, provavelmente, lhe faltem maturidade e sensatez ao entender a significância da capoeira e o que ela representa como esporte e manifestação cultural.


"(...) uma mulher capoeirista deveria ser a primeira a incentivar outra capoeirista e isto nem sempre ocorria". (CAPOEIRA, 1999, p. 183).
Essa agressividade entre as mulheres que praticam capoeira provém da herança de gerações que apresentam esse tipo de relação, porém essa realidade vem mudando através da dedicação das mulheres. De acordo com Capoeira (1999, p. 186) "Várias idéias, antigas e estereotipadas, caíram por terra. A primeira é que capoeira é coisa ‘só de homem’. Outro mito que naufragou é que a capoeira masculiniza a mulher (...)".

São vários os motivos que levam mulheres a praticar a capoeira, desde a estética, saúde e bem-estar proporcionados até o rumo profissionalizante e educativo. É interessante observar o quanto a participação feminina na capoeira em escolas, clubes, academias e outros locais, tem se tornado mais evidente na quantidade, da qual destacam-se mulheres qualificadas tecnicamente e profissionalmente.




A princípio, compreende-se que o objetivo da persistência de algumas mulheres dentro da capoeira é se formarem profissionais e mestras, porém, devido ao fato de se próprio subestimarem, elas desacreditam que outras mulheres e, principalmente homens, treinariam sob sua liderança. Essa carência de apoio pode partir de seus mestres, do local de trabalho, dos relacionamentos profissionais e/ou até, das estratégias bloqueadoras da sociedade.


Recentemente, tem se promovido e divulgado muitos eventos e encontros femininos de capoeira, o que apresenta aparentemente uma posição de destaque no meio capoeirístico, mas que na verdade é um indício de preconceito e exclusão da mulher, de forma que ela se sobressai soladamente. Além disso, nos eventos exclusivamente femininos nota-se uma agressividade maior entre as mulheres. Para melhor entender, basta trocarmos os papéis: dificilmente, para não dizer nunca, foi divulgado um evento exclusivamente masculino, com o propósito de somente homens participarem.




No final do ano de 2002, fiz uma entrevista com uma profissional de capoeira, praticante há 15 anos aproximadamente, quando constatei diferenças entre os gêneros referente a postura e comportamento adotados pelo homem e pela mulher, num sentido generalizado. Foi colocada em questão a seriedade da mulher com a prática da capoeira em relação ao homem e através disso, foi possível afirmar que geralmente os homens se apresentam mais receptivos, interessados e, até, persistentes diante o aprendizado que a capoeira tem a oferecer.






Além disso, ao referir-se a promoção de eventos exclusivamente femininos a nossa entrevistada citou desvantagens que os encontros femininos as mulheres proporcionam, pois nestes momentos as mulheres demonstram muitas divergências dentro da roda de capoeira, pois tornam-se agressivas entre si ao sentirem a necessidade de provar o seu potencial, e aceitam com dificuldades levar algumas desvantagens durante um jogo dentro.
Outro fato tão importante quanto os demais em relação ao desempenho da mulher na capoeira é a interrupção dos treinamentos, pois podem diminuir a performance da mulher para a atividade de capoeira. A gravidez pode ser um fator forte neste aspecto, pois pode haver implicações na performance e se a mulher não tiver determinação e gosto pela capoeira ela não irá se profissionalizar nesta área e, nem mesmo, dará continuidade aos seus treinamentos.



Mesmo sendo relativamente menor o número de profissionais do sexo feminino na atividade de capoeira a mulher tem ocupado seu espaço e dado a sua parcela de contribuição para a sociedade e, em especial, para o aprendizado da capoeira.
Abaixo está representada a proporção de homens e mulheres profissionais em Capoeira no estado do Paraná, de acordo com a Federação Paranaense de Capoeira.




Na representação ao lado é evidente a diferença dos índices entre homens e mulheres profissionais da Capoeira e vale ressaltar que, neste Estado, dentre as mulheres não há mestras, mas há mestres entre os homens. O que vale é a proporção já mostrada, mas é evidente que deve ser levado em consideração que a minoria dos profissionais em capoeira são federados. Talvez isso ocorra porque esta questão envolve divergências quanto às propostas da Federação; rivalidades entre mestres e grupos, questões financeiras e a organização de grupos distintos de Capoeira, onde cada um segue uma filosofia diferenciada embasada em suas tradições.
Para Couto (1999), infelizmente a liberdade de ascensão do sexo feminino é inibida por questões preconceituosas, apesar das mulheres serem capazes de apresentarem um alto nível de desenvolvimento dentro da capoeira sem se igualarem ao sexo masculino.
Carolina Valentim "Pezinho"



Fonte: www.portalcapoeira.com

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