segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Capoeira em 3D























domingo, 21 de dezembro de 2008

A MULHER E A CAPOEIRA




Desde a Antigüidade, na Grécia, eram poupadas as mulheres qualquer ligação com áreas relacionadas ao conhecimento e pensamento, já que os papéis materno e caseiro lhe eram designados. Analisando o contexto histórico da capoeira, é possível apontar a importância do sexo feminino no conteúdo cultural e na estruturação da capoeiragem. A partir daí a participação das mulheres foi tornando-se mais evidente e intensa, porém acoplada a um sentido estereotipado de masculinidade diante da marginalização daqueles que praticavam a capoeira. A marginalização seria uma das razões pela qual as mulheres continuam sendo alvo de atitudes preconceituosas e que questionam seu potencial e suas capacidades físicas.


Nestor Capoeira (1999) interpreta depoimentos de mulheres capoeiristas do Grupo Senzala em reunião. As mulheres capoeiristas presentes nesta reunião levantaram o problema da falta de documentação sobre a história da mulher na capoeira, a qual, certamente, contribuiria com pesquisas e estudo a respeito. Porém sabe-se que durante a época do Brasil Colonial, consta em sua história, mesmo que de forma pouco precisa, alguns registros de mulheres jogando capoeira. A República do Quilombo dos Palmares contava com mulheres guerreiras para sua resistência, e, a repercussão dessas mulheres se nivelou a dos homens escravos.



"(...) mulheres tão marginalizadas quanto os homens capoeiristas, assim como toda a cultura e o povo negro daquela época".(CAPOEIRA, 1999, p. 182).
Há fatores que implicam, desde o início, na participação de mulheres na capoeira. A desunião e competitividade entre mulheres são mais acentuadas, pois, provavelmente, lhe faltem maturidade e sensatez ao entender a significância da capoeira e o que ela representa como esporte e manifestação cultural.


"(...) uma mulher capoeirista deveria ser a primeira a incentivar outra capoeirista e isto nem sempre ocorria". (CAPOEIRA, 1999, p. 183).
Essa agressividade entre as mulheres que praticam capoeira provém da herança de gerações que apresentam esse tipo de relação, porém essa realidade vem mudando através da dedicação das mulheres. De acordo com Capoeira (1999, p. 186) "Várias idéias, antigas e estereotipadas, caíram por terra. A primeira é que capoeira é coisa ‘só de homem’. Outro mito que naufragou é que a capoeira masculiniza a mulher (...)".

São vários os motivos que levam mulheres a praticar a capoeira, desde a estética, saúde e bem-estar proporcionados até o rumo profissionalizante e educativo. É interessante observar o quanto a participação feminina na capoeira em escolas, clubes, academias e outros locais, tem se tornado mais evidente na quantidade, da qual destacam-se mulheres qualificadas tecnicamente e profissionalmente.




A princípio, compreende-se que o objetivo da persistência de algumas mulheres dentro da capoeira é se formarem profissionais e mestras, porém, devido ao fato de se próprio subestimarem, elas desacreditam que outras mulheres e, principalmente homens, treinariam sob sua liderança. Essa carência de apoio pode partir de seus mestres, do local de trabalho, dos relacionamentos profissionais e/ou até, das estratégias bloqueadoras da sociedade.


Recentemente, tem se promovido e divulgado muitos eventos e encontros femininos de capoeira, o que apresenta aparentemente uma posição de destaque no meio capoeirístico, mas que na verdade é um indício de preconceito e exclusão da mulher, de forma que ela se sobressai soladamente. Além disso, nos eventos exclusivamente femininos nota-se uma agressividade maior entre as mulheres. Para melhor entender, basta trocarmos os papéis: dificilmente, para não dizer nunca, foi divulgado um evento exclusivamente masculino, com o propósito de somente homens participarem.




No final do ano de 2002, fiz uma entrevista com uma profissional de capoeira, praticante há 15 anos aproximadamente, quando constatei diferenças entre os gêneros referente a postura e comportamento adotados pelo homem e pela mulher, num sentido generalizado. Foi colocada em questão a seriedade da mulher com a prática da capoeira em relação ao homem e através disso, foi possível afirmar que geralmente os homens se apresentam mais receptivos, interessados e, até, persistentes diante o aprendizado que a capoeira tem a oferecer.






Além disso, ao referir-se a promoção de eventos exclusivamente femininos a nossa entrevistada citou desvantagens que os encontros femininos as mulheres proporcionam, pois nestes momentos as mulheres demonstram muitas divergências dentro da roda de capoeira, pois tornam-se agressivas entre si ao sentirem a necessidade de provar o seu potencial, e aceitam com dificuldades levar algumas desvantagens durante um jogo dentro.
Outro fato tão importante quanto os demais em relação ao desempenho da mulher na capoeira é a interrupção dos treinamentos, pois podem diminuir a performance da mulher para a atividade de capoeira. A gravidez pode ser um fator forte neste aspecto, pois pode haver implicações na performance e se a mulher não tiver determinação e gosto pela capoeira ela não irá se profissionalizar nesta área e, nem mesmo, dará continuidade aos seus treinamentos.



Mesmo sendo relativamente menor o número de profissionais do sexo feminino na atividade de capoeira a mulher tem ocupado seu espaço e dado a sua parcela de contribuição para a sociedade e, em especial, para o aprendizado da capoeira.
Abaixo está representada a proporção de homens e mulheres profissionais em Capoeira no estado do Paraná, de acordo com a Federação Paranaense de Capoeira.




Na representação ao lado é evidente a diferença dos índices entre homens e mulheres profissionais da Capoeira e vale ressaltar que, neste Estado, dentre as mulheres não há mestras, mas há mestres entre os homens. O que vale é a proporção já mostrada, mas é evidente que deve ser levado em consideração que a minoria dos profissionais em capoeira são federados. Talvez isso ocorra porque esta questão envolve divergências quanto às propostas da Federação; rivalidades entre mestres e grupos, questões financeiras e a organização de grupos distintos de Capoeira, onde cada um segue uma filosofia diferenciada embasada em suas tradições.
Para Couto (1999), infelizmente a liberdade de ascensão do sexo feminino é inibida por questões preconceituosas, apesar das mulheres serem capazes de apresentarem um alto nível de desenvolvimento dentro da capoeira sem se igualarem ao sexo masculino.
Carolina Valentim "Pezinho"



Fonte: www.portalcapoeira.com

Nos Bastidores da Capoeira


Decretado por Marechal Deodoro da Fonseca o Decreto Lei 487 dizia que: A partir de 11 de Outubro de 1890, todo capoeira pego em flagrante seria desterrado para a Ilha de Fernando de Noronha por um período de 02 á 06 meses de prisão.
Parágrafo único: É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira, a alguma banda ou malta, aos chefes impor-se-á a pena em dobro.


A origem do nome Capoeira vem do Tupi Guarani: "CAA" = Mato "PUERA" = Que já foi
Dizia-se que quando o escravo fugia, ele ia pra Capoeira, ou seja, pro mato e fugia.


Mestre Bimba só aceitava na sua academia alunos que tivessem a carteira de trabalho assinada, fossem estudantes ou tivessem alguma ocupação reconhecida.


Antigamente havia um "Berimbau de Boca" ou "trompa de Paris" no qual a caixa de ressonância, em vez da cabaça era a boca.


"Esquenta Banho" era a senha que Mestre Bimba dava a seus alunos para um jogo rápido, apressado. A expressão nasceu após as aulas, quando Bimba obrigava os alunos a tomar banho frio e ligeiro, porque a caixa de água era pequena.


Os capoeiristas costumavam usar calças boca de sino e no período em que a capoeira ficou proibida por lei (1890-1937) a polícia, para detectar os capoeiristas, colocava um limão dentro das calças do indivíduo. Se o limão saísse pela boca das calças, a pessoa era considerada capoeiristas.


Mestre Bimba entregava aos seus discípulos um lenço azul após a conclusão do curso, um lenço vermelho após a primeira especialização e um lenço amarelo após a segunda especialização.


"Vadiar" significa jogar por prazer, por diversão. Na época da escravidão a vadiação era o lazer dos escravos nas horas de descanso.


Os capoeiristas eram contratados pelos políticos para bagunçar no dia das eleições. Enquanto as pessoas desviavam a atenção para a confusão dos capoeiras um indivíduo colocava um maço de chapas na urna ou na linguagem da época "emprenhava a urna". Vencia as eleições o candidato que dispunha de maior n.º de capoeiras.


Canjiquinha foi o criador da festa de Arromba, jogava nas festas do Largo da Bahia. Nessas comemorações vários capoeiristas se reuniam e jogavam em troca de dinheiro e bebida.


"Crocodilagem" é o nome dado a um jogo duro que submete ao capoeira a uma situação de inferioridade ou deslealdade.


Em 1824, os escravos que fossem pegos praticando capoeira recebiam trezentas chibatadas e eram enviados para a Ilha das Cobras para realizar trabalhos forçados durante três meses.


Milhares de capoeiristas foram para a Guerra do Paraguai, pois havia sido prometida a liberdade no final do conflito àqueles que participassem da batalha.
"Caxinguelê" é o nome dado a meninos que praticam capoeira.


Antigamente, era de costume os capoeiristas trajarem terno de linho branco. Era considerado um bom jogador aquele que conseguisse sair da roda com o terno impecavelmente limpo.


A orquestra do samba de roda é composta por pandeiro, violão, chocalho e prato de cozinha arranhado por uma faca.


A luta de Bimba que demorou mais tempo durou um minuto e dois segundos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Videos Prof. Formiga






Prof. Formiga e Contra Mestre Mudo (aulão em Camacan 2008)






Prof. Formiga ( Academia Santa Luzia)









sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Musicalidade na Capoeira





Vários grupamentos sociais em diferentes locais e épocas sempre se utilizaram da dança e do canto com diversas finalidades. Dentre as mais comuns, destacamos as ligadas às atividades lúdicas como as cantigas de roda e as várias modalidades do nosso samba: o samba rural, o samba de roda e o samba de barreiro, cujo prazer da companhia é a tônica principal. Temos também as ligadas às celebrações religiosas, sejam nos pontos de Candomblé ou de Umbanda ou ainda nas manifestações de religiosidade populares como nas trezenas de Santo Antônio.





Os rituais de iniciação em algumas sociedades, também têm na musicalidade uma importância de destaque quando os valores intrínsecos de determinados grupos são, por seu intermédio, evidenciados e perpetuados. Outros rituais de dança coletiva como o Kuarup, dos índios do Parque Nacional do Xingu, revigoram os laços espirituais e afetivos do grupo, ao tempo em que fortalecem a coletividade e também a identidade do indivíduo.


Vários povos, em suas sociedades rurais, têm difundido muito o comumente chamado canto de trabalho, que pressupõe o uso de música como elemento auxiliar para as atividades laborais, dando ritmo, marcando o compasso, auxiliando-os assim no cumprimento da suas obrigações, suavizando sua relação com o desgastante trabalho. Estas expressões musicais, objeto de pesquisas de etnomusicólogos e folcloristas, acompanham as atividades manuais no campo ou na cidade. São geralmente coletivas, mas também podem ser apresentadas em duplas ou individualmente.


O excelente projeto Quixabeira, levado a cabo no interior da Bahia pelo maestro carioca Bernard Von Der Weid em 1992 e devidamente registrado pelo Instituto de Rádio Difusão Educativa da Bahia - IRDEB, gerou o CD “Da Quixabeira Pro Berço do Rio”. Nele, como no documentário Canto de Trabalho, também realizado pelo IRDEB, foi registrada a união entre a arte e o labor, contrariando uma máxima de Henry Ford em sua auto biografia que diz:




“Quando trabalhamos devemos trabalhar. Quando jogamos devemos jogar. A nada serve tentar misturar as duas coisas. O único objetivo deve ser aquele de desempenhar um trabalho e ser pago por isso. Quando o trabalho estiver terminado, pode então começar o jogo, mas não antes”.







Por seu intermédio, os trabalhadores aliviam suas dores, aliando música e poesia à possibilidade de executar com prazer suas obrigações. É comum se afirmar, entre os praticantes e estudiosos de capoeira, que a musicalidade utilizada na luta servia para disfarçá-la em dança e, assim, fugir às perseguições da polícia, que não permitia as manifestações culturais dos negros em espaço público. Os instrumentos usados no jogo da capoeira, para manter este disfarce, seriam o berimbau e o atabaque. Toda essa simulação seria necessária à sobrevivência destas manifestações.

Mas não há a devida comprovação científica para estas afirmações. Sendo a dança também uma manifestação cultural, ela seria, assim como a capoeira, reprimida pelas autoridades. O que não justifica, portanto, o argumento do disfarce. Porém, esta como tantas outras questões pertinentes à história da capoeira, serão sempre objeto de reflexões, dúvidas e inquietações uma vez que não há as devidas comprovações sobre os fatos. Contudo, segundo afirma o pesquisador e escritor Fred Abreu, era possível, ante a aproximação da polícia, que os contendores e os presentes afirmassem que estavam apenas brincando. Sabemos, porém que a prática da capoeira como luta, ataque e defesa não era tolerada pela sociedade.


Ela percebia nesse movimento um perigo, pois os negros se fortaleciam e ficavam aptos ao combate corpo - a - corpo, “ameaçando” sua integridade patrimonial e física. Outra questão que polariza opiniões (tendo-se em vista que a capoeira é a única luta no mundo a contemplar acompanhamento musical através de instrumentos e cânticos) é qual seria o primeiro instrumento a ser usado como acompanhamento da vadiação e que conseqüentemente contribuiu para transformá-la numa luta/dança, ajudando a formação do paradigma, também discutível, da “esquiva social”.


O primeiro registro escrito da associação da luta com o berimbau, instrumento de origem africana, até então usado por vendedores ambulantes para apregoar suas mercadorias, diz:Nesses exercicios, que a gyria do capadocio chamava de brinquedo, dansavam a capoeira sob o rythmo do berimbau, instrumento composto de um arco de madeira flexivel, preso ás extremidades por uma corda de arame fino, estando ligada à corda numa cabacinha ou moeda de cobre. O tocador de berimbau segurava ao instrumento com a mão esquerda, e na direita trazia pequena cesta contendo calhaus, chamada gongo, além de um cipó fino, com o qual feria a corda, produzindo o som. (QUERINO, 1916)

Alguns pesquisadores, baseados na tela de Rugendas “O Jogo da Capoeira” ou “Dança da Guerra”, datada de 1830, que retrata um jogo acompanhado de tambores no Rio de Janeiro, afirmam que este instrumento foi o primeiro a servir de acompanhamento rítmico para a sua prática. Outros afirmam ter sido o berimbau. Porém, o fato de Querino registrar a presença do berimbau em 1916, e Rugendas representar um tambor em 1830, não garante, “per si”, que o berimbau não tenha estado antes do tambor em contacto com as rodas sem o devido registro. Mais uma questão controversa e pouco relevante.

O berimbau é considerado o principal instrumento da roda de capoeira. Por esta razão e por dirigir e proporcionar maior ou menor velocidade (ritmo) ao andamento da luta, ele adquiriu notoriedade e importância. Além disso, lhe é atribuída a função de gerenciar a cadência, por intermédio de toques característicos para cada tipo de jogo, e na roda introduzir cânticos.




A música “transporta” o capoeira, contribui para que aconteça durante o jogo uma espécie de transe espiritual, como afirma Decânio Filho, o Mestre Decânio, em Transe Capoeirano. É por intermédio do acompanhamento do seu instrumental característico, das palmas e cantigas que acontece a reverência aos seus antepassados, a prontidão para a luta e a afinidade com outras áreas do relacionamento humano. Estes aspectos são redefinidos de acordo com o envolvimento particular de cada jogador, quando acontece uma releitura dos seus códigos e elementos simbólicos, sugerindo uma atividade mista na qual se interpenetram religiosidade, combate, ludicidade e arte, dentre outros fatores.

Na capoeira, as letras das canções se configuram como uma das formas de transmissão oral da memória coletiva e das tradições, muito embora não possam ser consideradas um instrumento fidedigno de referência.


Quem as compõe não tem obrigatoriamente compromisso científico na acepção das suas letras e, muitas vezes, as fazem dentro de conceitos individuais ou do “ouvir dizer”. Por exemplo, as letras que falam de Zumbi, como mestre de capoeira no Quilombo dos Palmares, não encontram aporte científico em nenhuma literatura específica, todavia é referenciada com fundamento na necessidade popular da construção de ídolos e heróis. Podemos afirmar, por conseguinte, que o grau de veracidade, contido nos cânticos do jogo, varia do registro histórico factual até o devaneio da fértil imaginação popular mítica e lendária, baseada no inconsciente coletivo ou na versão particular e parcial de cada compositor sobre um determinado fato em questão.








O conteúdo do canto na capoeira expressa a reinterpretação de realidades sócio-políticas e míticas. Tais elementos são responsáveis pela preservação e continuidade da tradição, pois através dela a história, o aprendizado e a memória, são passadas entre gerações, transformando-se num grande legado cultural.Muitos destes cânticos interpretam a vida do negro no cativeiro e suas relações interpessoais, bem como as supostas origens da capoeira. O improviso, que faz parte do samba de roda, do pagode e da embolada, aqui também se faz presente, sob forma de loas improvisadas que elogiam as qualidades dos jogadores e da própria capoeira, seus heróis míticos e lendários enaltecendo suas epopéias. Estes cânticos exercem influência sobre o capoeirista determinando o estado emocional, o ritmo e a intensidade do jogo dentre outros fatores relevantes.É notória a influência da música sobre o estado de humor das pessoas, basta lembrar a tristeza do toque de silêncio, a ternura da Ave-Maria, a agitação do Olodum e dos trios elétricos, os movimentos suaves do balé no Lago do Cisne. [...] portanto, se a música pode alterar o estado de ânimo e as suas manifestações motoras, estáticas e dinâmicas, forçosamente teremos que concluir que o andamento, ritmo, palmas e cantos também modificam o comportamento dos capoeiristas durante o jogo. (DECÂNIO FILHO, 1996)




Eles são compostos de três tipos: ladainha, chula e corrido. A ladainha é parte ritualística e peculiar ao jogo de Angola. Sua característica principal é ser cantada em solo, isto é, por apenas uma pessoa. Os demais participantes só entram em coro quando o solista canta o “iê, vamo s’imbora”. Do ritmo das cantigas, o seu é o mais lento e proporciona um momento ímpar de concentração e até de preparação espiritual (de forma muito particular) para o jogo. Na chula acontece a saudação entre o solista e os demais jogadores. Ela é realizada ao final da ladainha. O corrido marca o instante em que o jogo pode ter andamento. E o coro é fundamental, devendo entrar desde o início.

Temos, pois, caracterizado um dos aspectos mais encantadores da capoeira que lhe empresta uma plasticidade ímpar, uma emotividade catalisadora da sedução que a arte de Bimba e Pastinha exerce sobre os seus praticantes e admiradores. Como vimos, longe de representar uma característica só da capoeira, os cânticos populares fazem parte de um universo maior dentro das atividades lúdicas, laborais e religiosas do ser humano. Eles representam a tradução em forma de arte, do dia-a-dia das comunidades e representam um dos aspectos que a identificam como tal e contribui para diferenciá-la de outros grupamentos sociais.



fonte: www.portalcapoeira.com








quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A vida na capoeira, conta Mestre Medicina

Mestre Luiz Medicina




Luiz Oliveira Rocha, mas conhecido como Mestre Medicina conta-nos que começou a jogar capoeira ainda garoto, sua origem é de família humilde e afirma que sempre gostou de esportes, em sua época na cidade de Itabuna-BA (sua terra natal) tinha uma academia de judô, que era uma escola que se jogava pra aprender, ele fazia ginástica e corridas isso quando contava com 10 anos de idade.

Logo depois, através de um amigo, ficou sabendo da capoeira, que era uma coisa que se fazia na rua, nesse momento o mesmo amigo lhe falou de um capoeirista de rua que se chamava Antônio Rodrigues (já falecido) e que o levou para as rodas de rua em Itabuna, naquele período não existiam academias de capoeira, então começou a freqüentar as rodas de capoeira e desenvolveu uma paixão imensa, mandavam o avisar, "diga àquele menino que vai ter roda".





Em um bairro ou outro ele ia, até que um dia ouviu falar do Mestre Suassuna, o Reinaldo Ramos Suassuna, que naquela época era chamado de Nado. Disseram a ele "rapaz tem uma pessoa que ensina capoeira na rodagem de Itajuípe", logo que soube disso terminou entrando na academia porque tocava berimbau, passando assim a ser aluno do Nado, hoje Mestre Suassuna. Ele tinha uns 15 anos de idade, cerca de dois anos depois Mestre Suassuna foi embora tentar ganhar a vida em São Paulo e Mestre Medicina assumiu a academia dele, alterando o nome de ACRI - Academia de Capoeira Regional de Itabuna para ACRESI - Academia de Capoeira Regional Suassuna de Itabuna.

Em 1972 ele foi para Salvador, em seguida passou no vestibular de Medicina. No segundo ano do curso ele começou um trabalho que denominava Kilombolas, porque naquele momento as pessoas faziam muito pouco capoeira, sendo rara a sua prática. Era comum se praticar Karatê ou Taicondô.


Quando estava para formar, voltou a cidade natal para fazer o último ano de medicina e só retornou a Salvador para fazer residência, tentou fazzer capoeira como escola mas não deu certo e Mestre Dedé ficou com o grupo Kilombolas, que organizou-se como Associação.

Após terminar a residência ele foi morar na Ilha Mar Grande, lá teve uma experiência incrível com rapazes que pareciam garotos, era uma alegria, uma ausência de maldade, fazia uma capoeira alegre. Lá foi feito um trabalho com as características e garotos e este trabalho sendo chamado de "meninos da Ilha", este grupo se estabeleceu.

Depois de morar 5 anos em Mar Grande ele foi morar em Cachoeira-BA, local onde já trabalhava, durante um certo tempo ficou indo e voltando, quando por fim decidiu fixar residência lá, começou outra trabalho de capoeira, nesse momento sentia que tinha uma relação com a capoeira maior ainda, que a vivência mostrou de uma forma intíma, mais apertada, que a capoeira merece.

Aí surgiu capoeira Raça, porque a capoeira Raça identifica a capoeira, nós, como uma raça diferente, é como se fosse pessoas diferentes, era largar o domingo, era se encontrar jogar, bater papo, assim ele classificou como uma raça diferente de ser humano, que é uma raça muito especial, o que elas mais querem é aprender capoeira em qualquer idade, aí ficou a idéia do nome e de gente que vive em turmas e que busca aprender a arte da capoeira.

Esse trabalho para o Mestre Medicina foi o mais incrível porque o encontrou com mais maturidade e lógico, por isso, cresceu mais, alguns alunos que faziam kilombolas passaram a adotar postura bem parecida, passando a ver a capoeira com mais serenidade, tudo belo: a graduação, a roda, o berimbau, o canto, o uniforme e aí terminaram passando a utilizar o nome capoeira Raça, o pessoal de Maceió Salve Axé que é do Ventania, China que era do grupo Kilombolas, o pessoal de Itabuna do grupo Luiz Medicina.


O Mestre Medicina não gostava o fato de uma grupo com nome de uma pessoa que não fosse o Mestre Bimba, mas aceitou que o Mestre Magrelo (Itabuna-BA) que é seu aluno tenha atribuído o nome Luiz Medicina. Mas hoje acha muito bacana a idéia de que todas as pessoas estejam na capoeira de uma forma oculta, então aprovou essa transformação do grupo Luiz Medicina para capoeira Raça, ficando feliz por isso.


A Academia para o Mestre Medicina é uma escola de vida, é uma forma de você fazer companheiros e amigos, de você melhorar mais a sua caminhada.

Ele é médico, mas quando estava exercendo sua profissão foi que conseguiu provar a si mesmo a relação que tem com a capoeira, porque estava na medicina e fez o curso em 7 anos e passou no primeiro vestibular, contudo se desencantou dentro da medicina, na faculdade se deu conta que existia esse mundo que é esse nosso e passou a viver em outro mundo que era de estudante de medicina, que não tinha nada a ver com o outro mundo e nesse momento quase desistiu da medicina. Seu irmão que o salvou e disse-lhe: "não, você vai ficar na medicina, porque na verdade a medicina parece contigo, não existem muitas pessoas que parecem com a medicina, pessoas simples que atende às pessoas de uma forma comum, tem Doutor é logico e você vai ser um médico, uma pessoa comum como outra qualquer". Isso o salvou, ele estava em Itabuna e voltou para Salvador, cortou os cabelos e começou a fazer medicina novamente, enfrentando as dificuldades de um mundo diferenta da capoeira que ele enxerga como um mundo muito especial, que vale a pena viver, seus filhos cresceram no mundo da capoeira e acredita que por isso cresceram bem.


O seu aluno e amigo Mestre Magrelo carregava Luizinho (filho do Mestre Medicina) no colo, hoje os dois jogam nas rodas, isso é coisa da capoeira, só na capoeira se consegue isso, porque as pessoas param na idade. Ele afirma o Magrelo parou, Luizinho cresceu. A Capoeira te pára, ela não impede que você envelheça, até porque não tem como isso deixar de acontecer, isso é coisa de Deus e Deus nos ofereceu o direito e a condição, se você quiser retardar o processo, você envelhece devargazinho, de uma forma doce, bacana. A capoeira é uma dessas maneiras.






terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Ressurreição da Capoeira




O decreto-lei 487, acabou temporariamente com a capoeira. Muitos de seus adeptos permaneceram exilados em São Paulo, no interior, participando de trabalhos forçados. Mestre Bimba, é considerado o pai da capoeira moderna, não só por ter atuado decisivamente na libertação, mas também por ter sido o primeiro a dar-lhe uma didática e ensinar em recinto fechado. Mestre Bimba criou o estilo "Regional". O estilo "Angola" teve em Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, seu mais digno representante.


Hoje, a capoeira não é mais privilégio da Bahia ou do Rio de Janeiro, tendo se espalhado por todo o Brasil com grande aceitação. Tornou-se um esporte competitivo, segundo a resolução do conselho Nacional de Desportos, em 1972. No exterior já se praticava em mais de 60 países.
A música faz-se notar com grande influência na capoeira. Poucas são as lutas ou muito raras aquelas que tem suas evoluções marciais interligadas aos sons de instrumentos.
A capoeira tem em seu conceito de arte marcial, afinidades que chegam quase a ser uma necessidade musical. Sons de percussão dando um ritmo ao corpo, que com as vibrações sonoras animam-se ao ponto tais estudiosos já aceitam que o som usado na capoeira, provoca reações conscientes e inconscientes de força no capoeira. O capoeira entrega seu corpo e mente àquele som, com grande interpretação psicológica e expressão corporal. Juntos, os dois conseguem na capoeira, um resultado fascinante, onde a musicalidade é parte fundamental no conjunto da luta. A música traz a uma roda de capoeira, muita força psicológica, uma união de todos aqueles que dela participam.

Dessa união a força de pensamento interna de cada um traz uma emoção forte e vibrante
aquela roda. Em contra partida, uma mesma roda de capoeira sem música ou outro som, não desperta a mesma motivação, deixando seus participantes menos excitados e até mesmo desconcentrados. As letras das músicas, em sua maioria simples, falando dos escravos, das senzalas, da liberdade oprimida... Mas se interpretadas com o sentimento que transmitem muitas delas trazem alguma ou muita emoção a quem canta, e a quem ouve

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Capoeira


Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem as suas origens "remotas" em Angola. Era antes uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade de fato ou de direito do negro liberto, mas tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, à cerca de cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com esse caráter inocente, a capoeira permanece em todos os estados do Brasil.
Tratava-se de um combate singular em que os "moleques de Sinhá", apenas demonstravam sua capacidade de ataque e defesa sem, contudo, atingir efetivamente os oponentes. Foi durante a escravidão que o jogo de Angola começou a crescer e chegou à maioridade no Brasil.







A discussão é interminável: pesquisadores, folcloristas, historiadores e africanistas ainda buscam respostas para a seguinte questão: “A capoeira é uma invenção africana ou brasileira? " Teria sido uma criação do escravo com fome de liberdade ? Ou invenção do indígena? As opiniões tendem para o lado brasileiro, e aqui vão alguns exemplos: no livro "A Arte da Gramática de língua mais usada na Costa do Brasil" do Padre José de Anchieta, editado em 1595, há uma citação de que "os índios Tupi-Guarani, divertiam-se jogando capoeira". Guilherme de Almeida no livro "Música no Brasil", sustenta serem indígenas as raízes da capoeira. O navegador Português Martim Afonso de Sousa, observou tribos jogando capoeira. Como se não bastasse, a palavra "capoeria" ( CAÁPUÉRA ) é um vocábulo Tupi-guarani, que significa "mato ralo" ou "mato que foi cortado".





Num trabalho que foi publicado pela XEROX do Brasil, o professor austríaco Gerhard Kubik, antropólogo e membro da associação mundial de folclore e profundo conhecedor de assuntos africanos, diz estranhar “que o brasileiro chame capoeira de Angola, quando ali não existe nada semelhante”. Também o estudioso Waldeloir Rego, que escreveu o que foi considerado o melhor trabalho sobre este jogo, defende a tese de que a capoeira foi inventada no Brasil. Brasil Gerson, historiador das ruas do Rio de Janeiro, acha que o jogo nasceu no mercado, quando os escravos chegavam com cesto (capoeira) de aves na cabeça e até serem atendidos, ficavam brincando de lutar, surgindo daí a verdadeira capoeira. Antenor Nascente, diz que a luta da capoeira está ligada à ave Uru (odontophorus capueira-spix), cujo macho é muito ciumento e trava lutas violentas com o rival que ousa entrar em seus domínios (os movimentos da luta se assemelham aos da capoeira). Por fim, Câmara Cascudo, afirma "ter sido trazida pelos banto-congo-angoleses que praticavam danças litúrgicas ao som de instrumentos de percussão" transformando-se em lutas aqui, no Brasil, devido à necessidade de defesa destes negros!Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez, durante as invasões holandesas de 1624, quando os escravos e índios, (as duas primeiras vítimas da colonização), aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas. Os negros criaram os Quilombos, entre os quais o mais famoso Palmares, cujo líder foi Zumbi, guerreiro e estrategista invencível diz a lenda, diz ter sido capoeira. Após esta época, houve um período obscuro e no renascimento do século XIX, transformou-se em um fenômeno social, que tomou conta de centros urbanos como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife.





As maltas de capoeiristas inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro, e se tornavam um problema para os vice-reis. Espalhavam-se pela cidade, acabando com festas, colocando a polícia para correr, tirando a teima dos valentões... defendiam sua precária liberdade, ora empregando apenas agilidade muscular, ora valendo-se de cacetes de facas. Foi então que apareceu o major Vidigal, chefe da polícia do Rio de Janeiro, nos começos do século XX: um diabo de homem que parecia estar em toda a parte com seus granadeiros armados de longos chicotes, protegidos pela distância na qual mantinham os capoeiristas e os podiam ofender a salvo.







A literatura de Machado de Assis e a arte de Debret, registravam a presença da capoeira nos costumes da época. Os capoeiristas viviam em "maltas", verdadeiros bandos que recebiam apelidos como "guaiamus" ou "nagôs". As "maltas", tiveram participação ativa em fatos históricos como: a revolta dos mercenários (soldados estrangeiros contratados para a guerra do Paraguai se rebelaram e foram rechaçados pelos capoeiristas), nas escaramuças entre monarquistas e republicanos e até na Proclamação da República. As maltas da Bahia foram desorganizadas por ocasião da guerra do Paraguai: o governo da província recrutou a força dos capoeiras, que fez seguir para o sul como "voluntários da pátria".






Manuel Querino, conta que muitos deles se distinguiram por atos de bravura no campo de batalha. Quando brigavam entre si, o grito de guerra assustava os estanhos ao ramo: "fêcha, fêcha!" significava o início de briga e ai de quem estivesse por perto.Consta que a guarda pessoal de José do Patrocínio e do próprio imperador de D. Pedro I, era formada por capoeiristas. Esse prestígio começou a cair com as leis abolicionistas: sem aptidão de qualquer espécie, uma massa humana disputava mercados de trabalho inexistentes. O jogo corporificou-se como instituição perniciosa e sua extinção passou a ser a palavra de ordem. As maltas converteram-se em grupos poderosos de proteção a negócios escusos e à audácia culminou com Decreto-lei 487, decretado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 1890: a partir do dia 11 de outubro, todo o capoeirista pego em flagrante seria desterrado para a Ilha Fernando de Noronha por um período de seis meses.






Ainda assim, a capoeira mostrou sua força: ao ser detido um de seus mais temíveis praticantes, o nobre português José Elísio dos Reis (Juca Reis ), preso por Sampaio Ferraz. O governo republicano sofreu sua primeira crise ministerial. Juca Reis era nada menos do que irmão do Conde de Matosinhos, dono do jornal "O País", o mais ferrenho defensor da causa republicana. Nas páginas do jornal, Quintino Bocaiúva defendeu com unhas e dentes a liberdade de Juca e o governo do Marechal foi obrigado a voltar atrás: ele acabou retornando para Portugal.

O mais famoso dos capoeiristas nacionais era natural de Santo Amaro, na zona canavieira da Bahia, e tinha os apelidos de Besouro Venenoso e Mangangá. Era invencível e inigualável. Ainda hoje as chulas da capoeira cantam suas proezas lendárias. A hora final chegou para as maltas do Recife mais ou menos em 1912, coincidindo com o nascimento do Passo do frevo, legado da capoeira









domingo, 7 de dezembro de 2008

Capoeira na TV e Cinema



Filme Esporte Sanguento (1993)
Título Original: Only the Strong


Sinopse: Marinheiro americano treina comando de pupilos nas artes da capoeira para fazer frente ao grupo de viciados e traficantes que espalham o terror numa escola de Miami.


Capoeira Vs Muay Thai


Comercial de um Energetico

Mestre Pastinha

Vicente Ferreira Pastinha
Mestre Pastinha(1889–1981)


Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de abril de 1889 em Salvador-Bahia. Mulato claro de estatura mediana, magro, de temperamento gentil e acolhedor, bem-humorado, reuniu ao seu redor um grande numero de excelentes capoeiristas, nem tanto por ser jogador excepcional, mas pela força de sua personalidade, seus dotes de filosofo e poeta, seu amor e conhecimento dos fundamentos da capoeira angola. Filho do espanhol José Senhor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.




Diz-se que Pastinha aprendeu capoeira ainda menino com um negro de Angola chamado Benedito que presenciou as surras que constantemente tomava de um menino mais velho. Mestre Benedito o chamou e disse: "O tempo que você perde empinando raia, vem aqui no meu cazua que vou lhe ensinar coisa de muito valia". Existem outras versões que dizem que Pastinha aprendeu capoeira bem tarde, já homem maduro.



A principio mestre Pastinha ensinava capoeira para os colegas da Marinha, onde ingressou aos 12 anos. Depois que saiu, aos 20 anos, abriu sua primeira escola de capoeira na sede de uma oficina de ciclistas. Alem de capoeirista, mestre Pastinha, era pintor; chegando a dar aula de pintura de quadros a óleo. Em 1941 fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola no casarão número 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de capoeira.



Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha. Para Pastinha, a capoeira de Angola se diferencia da Capoeira Regional por não ter método, ser sagrada e “maliciosa”. Pastinha não aceitava a "mistura" feita por mestre Bimba, que incorporou a capoeira movimentos de outras lutas.



Pastinha dedicou sua vida a capoeira angola, tornando-se um dos estandartes da cultura afro-brasileira. Faleceu em 14 de novembro de 1981, aos 92 anos de idade, cego havia 18, abandonado pelos órgãos públicos e pela maioria de seus antigos alunos.



Frases e pensamentos de pastinha


1- O capoeirista deve ser calmo, nada de afobação, a tranqüilidade permite que o capoeira se defenda ou ataque com mais sabedoria e malandragem.

2- O capoeirista deve ser leal, tem que respeitar seus colegas e ter uma obediência quase cega às regras da capoeira.

3- Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações têm que ser feitas aos poucos. Isso serve na capoeira, na família, na vida. Há segredos que não podem ser revelados a todas as pessoas. “Há momentos que não podem ser divididos”.

4- Não se pode esquecer o berimbau. Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá vibração e ginga ao corpo da gente. O conjunto de percussão com o berimbau não é arranjo moderno não, é coisa de princípios. Bom capoeirista além de jogar deve saber tocar berimbau e cantar.

5-"Angola, capoeira mãe. Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método, seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista”.

6- Capoeira é mandinga, é manha, é malícia, é tudo que a boca come... Pratico a verdadeira capoeira angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de angola que herdei de meus avós é a lei da lealdade. A capoeira angola, a que aprendi, não deixei mudar aqui na academia. Os meus discípulos zelam por mim. Os olhos deles agora são os meus.




"Angola, Capoeira Mãe!
É mandinga de escravo em ânsia de liberdade.
Seu princípio não tem método,
Seu fim é inconcebível ao mais sábio dos mestres."
(definição de Pastinha ao jogo de capoeira)







Mestre Bimba o Mestre dos Mestres

Manoel dos Reis Machado
Mestre Bimba


Nasceu em 23 de novembro de 1899,"1900" no bairro de Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia, filho de Luis Candido Machado, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria Martinha do Bonfim. Seu apelido resultou de aposta que sua mãe e a parteira fizeram. Quando D. Maria estava grávida achava que ia dar a luz a uma menina e a parteira achava que a criança era um menino. Então fizeram uma aposta. Quando a criança nasceu ganhou o apelido de Bimba, por ser o nome popular dado ao órgão sexual masculino na Bahia.
Sua iniciação na Capoeira se deu na Estrada das Boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador Bahia. Foi discípulo de Bentinho, um africano que era capitão da companhia de Navegação Baiana, e cujo estilo era Capoeira Angola. Mestre Bimba ensinou Capoeira Angola por mais de dez anos. Em 1932, Bimba fundou a primeira academia especializada em Capoeira. Num tempo onde ainda era proibida e repreendida.

No Engenho Velho de Brotas, bairro em que nasceu, já havia desenvolvido seu próprio método. Em 1937 a sua academia foi registrada como, Centro de Cultura Física Regional e em 1939 ensinava a "Regional" no quartel da CPOR "Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exercito." Onde trabalhou por três anos.
Os métodos militares influenciaram bastante na Capoeira Regional. Os exercícios físicos, a disciplina rígida e as emboscadas na mata presentes no seu curso eram práticas tipicamente militares.
Inaugurou sua segunda academia em 1942, no Terreiro de Jesus. Por sua eficiência, seu método foi considerado o mais prático e perfeito, por isso ultrapassou fronteiras e ficou conhecido mundialmente. Muitas personalidades da vida política e social da Bahia foram alunos de mestre Bimba.



Em 1949 foi para São Paulo com alguns Capoeiristas para enfrentarem com atletas de luta livre no Ginásio do Pacaembu. A maioria dos Capoeiristas venceu os lutadores por nocaute.
Com o intuito de divulgar a Capoeira Regional, Bimba e seus alunos começaram a realizar inúmeras apresentações pelo Brasil.
Muitas personalidades da vida política e social da Bahia foram alunas de Mestre Bimba.Através de algumas delas, Bimba levou a "Capoeira Regional" até o palácio do Governo em"1953" Na época em que o general Juracy Magalhães era Interventor.
Ganhou respeito e admiração da autoridade máxima do Estado e abriu caminho para uma demonstração para o Presidente da República, Getúlio Vargas.
Esta apresentação à Vargas foi fundamental para a evolução da Cultura africana em nossos pais. Getúlio legalizou a Capoeira, reconheceu-la como a luta nacional brasileira e, posteriormente, oficializou sua prática através do Ministério da Educação.
Mestre Bimba se apresentou pela ultima vez na Bahia, no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFBA, em 1973 antes de seu "exílio" voluntário em Goiás.
Em 1973, Bimba despediu-se de Salvador e foi morar em Goiânia. Em 5 de fevereiro de 1974, morre no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiânia, após sofrer um derrame cerebral. As academias da Bahia ficaram fechadas durante sete dias em homenagem ao Mestre.


Um sistema de ensino com rigor pedagógico: método de ensino, lições, avaliações, turma de alunos, aulas e rodas em dias e horários definidos, livros de matrícula, controle de mensalidade, apostilas. Na Academia havia um quadro contendo um regulamento com nove itens, envolvendo aspectos técnicos e disciplinares:

1. Deixe de fumar. Proibido fumar durante os treinos.

2. Deixe de beber. O uso do álcool prejudica o metabolismo muscular.

3. Evite demonstrar aos seus amigos de fora da "roda" de capoeira seus progressos. Lembre-se de que a surpresa é a melhor aliada numa luta.

4. Evite conversa durante o treino. Você esta pagando o tempo que esta na academia, e observando os outros lutadores, aprenderá mais.

5. Procure gingar sempre.

6. Pratique diariamente os exercícios fundamentais.

7. Não tenha medo de se aproximar do oponente. Quanto mais próximo se mantiver, melhor aprendera.

8. Conserve o corpo relaxado.

9. Melhor apanhar na roda do que na rua. Quem foi aluno de Mestre Bimba, lembra-se do rigor no cumprimento dos horários.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Santa Luzia -ba





Santa Luzia é dona de muitas belezas naturais, abrigando rios, cachoeiras, lagoas, cavernas e alguns paredões de rocha. No passado foi o maior pólo de exploração diamantífera do sul da Bahia. Santa Luzia vem se tornando um pólo bastante movimentado por aqueles que buscam esportes radicais.

Cavernas, rios, cachoeiras, poços, lagoas e grandes paredões de rocha desenham a bela paisagem de Santa Luzia, o mais novo dos municípios da Costa do Cacau, desmembrado de Canavieiras em 1985. O cenário, que se enquadraria perfeitamente como parte da Chapada Diamantina, resguarda uma vantagem extra: a proximidade com o mar.

Fruto das riquezas e opulência dos diamantes, o Povoado de Jacarandá, às margens do Rio Pardo, tombado Sítio Histórico e patrimônio do município, conserva construções coloniais, como a igreja de Nossa Senhora do Rosário, que abre a uma vista privilegiada da cidade, no alto de uma colina.

No início do século XX, a busca de areias monazíticas levou aos diamantes do Salobro,a maior exploração diamantífera no sul da Bahia, cenário do romance do médico e escritor Afrânio Peixoto.

Essa exploração diamantífera, juntamente com a expansão agrícola fortaleceu o povoado de Jacarandá às margens do rio Pardo, lugar que teve seu declínio a partir de uma enchente calamitosa em 1914. Posteriormente, surgiria um povoado em local próximo ao anterior, que recebeu o nome de "Arriba Saia" (atual município de Santa Luzia), porque ali havia muita lama e as mulheres precisavam levantar as saias para andar no lamaçal.